Espaço de compartilhamento, registros, sensações, reflexões, discussões, expressões, imagens, sons, vazios... de diversos elementos da forma e do conteúdo da arte e da vida. Blablabla...

"(...) não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos (...)"

"(...) Quem pode, pode Deixa os incomodados que se incomodem (...)"

"(...) um coturno (...) sapatilhas de arame (...) alpercatas de aço (...) pés descalços sem pele (...) um passo que a revele (...)"

"(...) Pra pedir silêncio eu berro Pra fazer barulho eu mesma faço (...)"

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Coisas que percebi, heterônimos, solo...


Dei-me conta (oh, que coisa, levei quase trinta anos para perceber isso!)...

Voltando: percebi que algumas passagens da vida têm tanta importância que parece que ficam "coladas" na minha memória. Daí, o que acontece: parece que o ano de 1997 foi ontem. Então eu fico muito zangada quando entro na livraria e o atendente (mais ou menos 10 anos mais novo que eu) diz: "Ah, essa edição é beeem antiga. É de 1995!". Fico realmente zangada, com vontade de dizer um monte de troços a ele. Sim, troços mesmo, é a melhor palavra, nesse caso.

Mas não falo. Não falo nada e apenas observo. Sim, se tem uma coisa que aprendi no teatro é que a gente aprende muito observando as pessoas. Já passei da fase da histeria, de ser uma "atriz-afetada-pseudo-dramática-em-excesso". Não vi quando exatamente aconteceu. Mas passei desta fase. Tenho agora a calma dos ingleses, como diria Ionesco. Às vezes sinto que posso vender calma e paciência, de tanto que tenho. Meu lado juvenil briga com meu lado maduro, pois quase se irrita com tanta compreensão sobre a vida e "todas-as coisas-que-vêm-junto".

Parece papo de maluco, isso de ter mais de um lado dentro de si? Sorry, eu posso. Tenho o sobrenome do maior heterônimo que a poesia já conheceu, meu filho: eu posso. Ok? Se não estiveres ok, lamento muito. Sorry (de novo), é tudo o que posso te dizer.

Sim, cheguei na tenra idade de sentir pro-fun-da-men-te que não devo nada a ninguém, que as escolhas que fiz foram as mais adequadas para mim, que tenho carreira profissional sólida e encontrei o amor. Sabe o que acontece? Meu lado que lembra que fez terapia por anos diz assim: "ai, esbanjando felicidade desse jeito, parece que tu estás querendo convencer a ti mesma destas coisas todas". Agora sabes o que é o melhor de tudo isso? É ter um lado que é mais equilibrado emocionalmente, e que lembra a este outro (que precisa tanto de terapia) que "às vezes, um charuto é só um charuto", e que isso de não ter mais que convencer ninguém de qualquer coisa vale também para mim. E lembra que não fomos "criados culturalmente" para sermos felizes. Fomos educados para ter medo de Deus ou qualquer coisa que se aproxime disso (luz violeta, bolha dourada, sei lá). Medo da morte. Medo dos outros. Medo da rua. Medo de tudo. E se, pela primeira vez na vida, há um lado meu, muito profundo, que experimenta não ter medo de vááárias coisas muito importantes para mim, é claro que os outros lados vão ficar histéricos, querendo me manter nos velhos padrões.

Escrevi "importantes" e lembrei do Caco falando "importante é palavra velha e cansada, já dizia o Abujamra". Sim, às vezes uso palavras velhas e cansadas. Sou "barroca", como me puxa a orelha minha orientadora. Tudo bem. Lido bem com a crítica, hoje. Baixo a cabeça e trabalho. Aprendi que nenhum sucesso na vida vem de graça: é fruto de trabalho árduo. E daí quando vem, a aceitação é tranquila: pois é resultado crescimento que se operou aqui dentro. Aliás, faz cerca de um ano já que não escuto mais que minha escrita é barroca, hehe. Agora que lembrei disso. Parece que teve crescimento também aí.

Bem, mais um dia de trabalho. Sim, porque na minha opinião, 20 de setembro não tem absolutamente nada para ser comemorado. E daí, faço a minha parte: ao invés de ficar só criticando vou trabalhar.

Estou saindo para ensaiar meu solo. Ah, é, não havia dado a notícia por aqui ainda: estou preparando um solo. Estreia agendada para início de 2012. Vem me ver no teatro, sempre! À parte viver a vida com prazer, é o que eu faço de melhor.

Parte das people que compõe o espaço de criação lindo que é o Neelic. A gente faz a festa, always!