Espaço de compartilhamento, registros, sensações, reflexões, discussões, expressões, imagens, sons, vazios... de diversos elementos da forma e do conteúdo da arte e da vida. Blablabla...

"(...) não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos (...)"

"(...) Quem pode, pode Deixa os incomodados que se incomodem (...)"

"(...) um coturno (...) sapatilhas de arame (...) alpercatas de aço (...) pés descalços sem pele (...) um passo que a revele (...)"

"(...) Pra pedir silêncio eu berro Pra fazer barulho eu mesma faço (...)"

sexta-feira, 25 de março de 2011

Trecho do livro...

Oi, gente,

hoje trago aqui um trecho do livro que estou lendo nas poucas horas vagas, para  'animar' meu espírito, entre as várias densas leituras que me propus a fazer para o curso de Mestrado que estou cursando. Sim, para mim é bem importante isso: eu não preciso ler para o Mestrado. Eu escolhi ler para o Mestrado. A gente se acostuma a reclamar. Eu tento fazer o exercício - confesso que nem sempre consigo - de lembrar que é uma escolha minha e só.

Bem, segue então um trechino do livro que descobri meio-sem-querer, A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery, francesa, viva.


"1. Quem semeia desejo

        "Marx muda totalmente minha visão do mundo", declarou-me hoje de manhã o jovem Pallières, que, em geral, nunca me dirige a palavra.
        Antoine Pallières, rico herdeiro de uma velha dinastia industrial, é filho de um de meus oito patrões. Derradeira eructação da grande burguesia empresarial - que só se reproduz por meio de soluços limpos e sem vícios -, ele estava radiante com sua descoberta, que me contava por reflexo, sem sequer pensar que eu conseguiria entender alguma coisa. Que podem entender as massas trabalhadoras sobre a obra de Marx? A leitura é árdua, a língua, apurada, a prosa, sutil, e a tese, complexa.
        E foi aí que quase me traí, bestamente.
        "Tem que ler a Ideologia alemã", disse a esse cretino de parca verde-garrafa.
        Para entender Marx e entender porque ele está errado, tem que ler Ideologia alemã.
        (...)
        Mas Antoine Pallières, cujo bigode embrionário e repugnante não tem nada de felino, olha para mim, duvidando de minhas estranhas palavras. Como sempre, sou salva pela incapacidade dos seres humanos de acreditar naquilo que explode as molduras de seus pequenos hábitos mentais. Uma zeladora não lê a Ideologia alemã, e, por conseguinte, seria incapaz de citar a décima primeira tese sobre Feuerbach. Além disso, uma zeladora que lê Marx está, necessariamente, de olho na subversão, e se vendeu a um diabo que se chama Confederação Geral dos Trabalhadores, a CGT. Que consiga lê-lo para a elevação do espírito é uma incongruência que burguês nenhum admite.
        "Recomendações à senhora sua mãe", resmungo fechando a porta na cara dele e esperando que a disfonia das duas frases seja abafada pela força dos preconceitos milenares."

"Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são os homens. Livros mudam os homens" (Quintana)

terça-feira, 22 de março de 2011

García Lorca - poema

Gente, 

me envolvi em muitos trabalhos e estudos nestes últimos dias, por isso fiquei por um tempo sem postar. A "vida real" gritou mais alto que a "vida virtual", e quando uma grita, a outra silencia - respeitosamente.

De qualquer forma, cá estou eu, de volta com meus pensamentos e compartilhamento de experiências e obras que gosto.

Trouxe então um poema do García Lorca, que foi o primeiro autor clássico que trabalhei como atriz. Fazia a personagem da avó em "A Casa de Bernarda Alba", e foi meu primeiro trabalho de porte significativo.

Deixo abaixo o poema:

"Un ataúd con ruedas es su cama

a las cinco de la tarde.

Huesos y flautas suenan en su oído

a las cinco de la tarde.

El toro ya mugía por su frente

a las cinco de la tarde.

El cuarto se irisaba de agonía

a las cinco de la tarde.

A lo lejos ya viene la gangrena

a las cinco de la tarde.

Trompa de lirio por las verdes ingles

a las cinco de la tarde.

Las heridas quemaban como soles

a las cinco de la tarde,

y el gentío rompía las ventanas

a las cinco de la tarde.

A las cinco de la tarde.

¡Ay qué terribles cinco de la tarde!

¡Eran las cinco en todos los relojes!

¡Eran las cinco en sombras de la tarde!"

( Do poema "La Cogida y la Muerte", em "Llanto por Ignacio Sánches Mejías")