Espaço de compartilhamento, registros, sensações, reflexões, discussões, expressões, imagens, sons, vazios... de diversos elementos da forma e do conteúdo da arte e da vida. Blablabla...

"(...) não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos (...)"

"(...) Quem pode, pode Deixa os incomodados que se incomodem (...)"

"(...) um coturno (...) sapatilhas de arame (...) alpercatas de aço (...) pés descalços sem pele (...) um passo que a revele (...)"

"(...) Pra pedir silêncio eu berro Pra fazer barulho eu mesma faço (...)"

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Passagem de ano...

Neste ano que se passou eu aprendi que sou capaz de fazer mais coisas do que eu imaginava ser. Aprendi que amo aqueles com quem me envolvo, de um amor humano mesmo. Mas que lamentavelmente não consigo tempo para me envolver com todos aqueles que gostaria de poder exercitar melhor o amor. Aprendi que às vezes minutos passam leeeentamente e que noutras o tempo passou e eu não vi. O que aconteceu? Onde eu estava? Onde minha mente estava quando aquela paisagem no ônibus passou e quando vi já estou nesta outra rua, que reconheço, mas que me parece às vezes estranhamente conhecida. Onde eu estava quando a minha pele começou a enrugar e eu não vi? É durante o sono que isso acontece? É uma espécie de entorpecimento? Envolvimento com o tempo? Com a falta de tempo? Com as pessoas que todas juntas à minha volta compõem e consomem o tempo? Eu me consumo no tempo. E o tempo, como o percebemos, é possível que nem exista. 

Isto eu também aprendi neste ano que passou.

Eu aprendi que posso viajar sozinha e me aproveitar de forma estrangeira. Eu entendi que sou uma estrangeira na minha pátria e na minha cidade. Ufa! Que bom foi entender isso!

Eu entendi fi-nal-men-te o teatro que eu quero fazer. E tive absoluta certeza daquele que eu não quero. Aprendi que sou, que estou, que fui, que já era, que não sou, que existo e inexisto em mim, em ti, no mundo... sou invisível, às vezes. Sou excessivamente visível em outras.

Aprendi que preciso muuuuito de momentos de silêncio absoluto. Que às vezes a minha irritabilidade aparece no meu rosto de forma tão transparente quanto todas as outras emoções (e às vezes me faz passar vergonha, hihihi). Vergonha, não: constrangimento. Constrangimento pelo outro, que está ali me irritando, em verdade.

Percebi que vou me permitir cada vez mais a falar o que eu quero, fazendo o exercício de não oprimir o ouvido alheio. Que me permito, às vezes sem filtro, ser ácida além do limite do bom-senso.

Descobri que não acredito em nada sobrenatural. Que deus é uma necessidade humana a partir do sofrimento que é a existência.

Aprendi que o meu deus é a felicidade, o exercício do prazer e da alegria, os bons encontros no teatro e na vida. Entendi finalmente o que é para mim a ética no teatro. E não me importo nem por um segundinho com o entendimento alheio. O meu me basta, agora.

Descobri que quero ser bem velhinha e continuar tendo a disposição para estar aberta a todos que me cercam, como vem sendo: descobrindo um presente em cada pessoa que atravessa meu caminho e que escolho que fique mais um pouco.

Descobri que tenho muito mais amigos do que eu imaginava. Descobri um Grupo Neelic forte, bonito e crescido! Descobri um dia de cada vez todas as pessoas que fazem parte deste lindo movimento. Movimento em Falso & Grupo Neelic = Eba!

Descobri que quero e vou estar ao lado do Gui até morrer. Que o amor se transforma todos os dias, de um jeito tão surpreendente como aquelas marcas do tempo que a gente não vê passando. Que, como eu não acredito mais no sobrenatural, cada dia da minha vida é muito valioso, e que encontrei a pessoa certa para mim. 

Descobri novas relações com a minha mãe e com o meu irmão. Descobri novas famílias na mesma família. E que me faz muito feliz pensar que os avós do Gui agora são meus também, mesmo que emprestados. Percebi que eu tinha carência de avós.

Aprendi que tenho amigos aqui e acolá, né, João? Saudade apertada! Vixe!

Descobri, por tudo isso e pelo muito mais que não cabe aqui expor, que sou contemplada.   

Percebi, finalmente, que poderia guardar tudo isso para mim, amando baixinho como queria o Mario, mas que prefiro compartilhar. Obrigada a você, que sabe que é parte disso aqui.