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"(...) Pra pedir silêncio eu berro Pra fazer barulho eu mesma faço (...)"

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Hoje é pura poesia

Necessidade de ler poesia. Fui pela mão do Ferreira Gullar. Deixo aqui, então, uma que gosto dele, e a fonte.

Té.


Narciso e Narciso

Se Narciso se encontra com Narciso
e um deles finge
que ao outro admira
(para sentir-se admirado),
o outro
pela mesma razão finge também
e ambos acreditam na mentira. 
Para Narciso
o olhar do outro, a voz
do outro, o corpo
é sempre o espelho
em que ele a própria imagem mira.
E se o outro é

como ele
outro Narciso,
é espelho contra espelho:
o olhar que mira
reflete o que o admira
num jogo multiplicado em que a mentira
de Narciso a Narciso
inventa o paraíso.

               
                E se amam mentindo
                                no fingimento que é necessidade
                                e assim
               
                mais verdadeiro que a verdade. 
Mas exige, o amor fingido,
ser sincero
o amor que como ele
é fingimento.
                    
E fingem mais
os dois
com o mesmo esmero
com mais e mais cuidado

               
        - e a mentira se torna desespero.
Assim amam-se agora

                    
se odiando. 
O espelho
               
embaciado,
já Narciso em Narciso não se mira:
se torturam
se ferem
não se largam

                      
que o inferno de Narciso
                      
é ver que o admiravam de mentira.

Fonte: http://literal.terra.com.br/ferreira_gullar/porelemesmo/narciso_e_narciso.shtml?porelemesmo
 

Fotografia que tirei em Buenos Aires.

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