Espaço de compartilhamento, registros, sensações, reflexões, discussões, expressões, imagens, sons, vazios... de diversos elementos da forma e do conteúdo da arte e da vida. Blablabla...

"(...) não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos (...)"

"(...) Quem pode, pode Deixa os incomodados que se incomodem (...)"

"(...) um coturno (...) sapatilhas de arame (...) alpercatas de aço (...) pés descalços sem pele (...) um passo que a revele (...)"

"(...) Pra pedir silêncio eu berro Pra fazer barulho eu mesma faço (...)"

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Texto do Colóquio (Final)

             Bem, chegamos finalmente à parte que termino o texto RELAÇÕES ENTRE ÉTICA E ESTÉTICA NA CRIAÇÃO TEATRAL CONTEMPORÂNEA, que venho postando aqui em partes desde 21 de dezembo. Como sabem, não sou blogueira diária, mas tento postar relativamente rápido, o que também depende do momento que estou vivendo. Quando a demanda de trabalho é maior, se torna impossível.
             Segue abaixo então o texto. Espero que gostem. Mandem opiniões, se quiserem, bem à vontade. E feliz Ano-Novo.

(...) 
            Abre-se então uma nova questão que é o centro de nossa investigação, que significa a compatibilidade entre a vivência do grupo, seu modo operatório, o comportamento ético nas relações indivíduo e coletivo e a experiência estética que sua poética se propõe. Nessa questão se destacam a dificuldade de efetiva vivência dos valores concebidos e as ações, a capacidade da vivência da diversidade em favor de um processo de criação comum.
            No caso do grupo Neelic, se faz necessário iniciar contextualizando sua realidade concreta: trata-se de um grupo situado no contexto de uma capital brasileira, fora do eixo de grande produção nacional (Rio de Janeiro – São Paulo), em que alguns integrantes não conseguem ter, assim como é a realidade de diversos artistas portoalegrenses, disponibilidade exclusiva para o seu envolvimento com o trabalho. Este fator coloca em risco constantemente a noção de profissionalismo. Neste sentido, alguns aspectos do discurso da poética do grupo se distanciam da realidade prática, ainda que tais aspectos tenham sido estabelecidos pelos próprios criadores.
            Poderia mencionar questões aparentemente bastante simples, como é o caso, por exemplo, da dinâmica de cumprimento dos horários definidos para os encontros do grupo. Como podemos, me pergunto, estabelecer uma harmonia entre o discurso e a vivência cotidiana, se na poética dos espetáculos abordamos os aqui mencionados fatores humanos presentes no encontro com o outro, e ainda assim é tão fácil pôr em risco a confiança que estrutura a relação com este outro? Afinal, quando decidimos coletivamente um horário para os encontros de rotina do grupo, e de alguma forma, na vida diária, a realidade prática que se estabelece é que alguns integrantes não conseguem cumprir o horário que fizeram parte da decisão de estabelecer, impõe-se aí uma questão de confiança. Este fenômeno se deve, via de regra, a problemas pessoais ou questões de trabalho. Pois, como sobreviver unicamente do grupo de teatro é algo ainda da esfera utópica em nossa cidade, os criadores trabalham também em outros projetos. Todavia, por vezes ocorre o evento do hábito ao atraso, e o que deveria ser exceção, se torna regra. Uma possibilidade imediatamente posterior é o surgimento de um abalo na confiança mútua entre os integrantes. Ora, retorno então à pergunta inicial: quais as razões para que, havendo uma escolha por um discurso poético que trate do encontro com o outro, a vivência deste discurso não consiga ocorrer na prática?
             Desta questão aparentemente mais simples, abrem-se outras tantas muito mais complexas, que em ocasião mais oportuna trataremos. Por enquanto, o momento é de interrogar. Desta forma, fico nas perguntas que o assunto me suscita.

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