Espaço de compartilhamento, registros, sensações, reflexões, discussões, expressões, imagens, sons, vazios... de diversos elementos da forma e do conteúdo da arte e da vida. Blablabla...

"(...) não o grites de cima dos telhados, deixa em paz os passarinhos (...)"

"(...) Quem pode, pode Deixa os incomodados que se incomodem (...)"

"(...) um coturno (...) sapatilhas de arame (...) alpercatas de aço (...) pés descalços sem pele (...) um passo que a revele (...)"

"(...) Pra pedir silêncio eu berro Pra fazer barulho eu mesma faço (...)"

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Texto do Colóquio

Conforme prometido na postagem anterior, segue abaixo o texto que escrevi para o Colóquio de Montevideo.
Preciso avisar que ele foi escrito para ser lido ao vivo, então, está em linguagem coloquial e não formal.
Outra coisa: colocarei ele aqui em partes, pois é grandinho para um blog. A que segue abaixo é a primeira.





RELAÇÕES ENTRE ÉTICA E ESTÉTICA NA CRIAÇÃO TEATRAL CONTEMPORÂNEA (PARTE 1)

            Desde o momento em que comecei a sentir interesse pelas teorias das artes cênicas, noto que muito pouco há escrito a respeito das relações que se estabelecem entre a ética que norteia os processos de criação e a poética do grupo de teatro, e tampouco há um exercício prático disto no desenvolvimento do trabalho dos grupos que hoje atuam. Ao menos não desta forma compreendido ou denominado.
            Escolhi então como objeto de análise o trabalho que o grupo Neelic vem desenvolvendo em Porto Alegre desde sua fundação, no ano de 2003. O Neelic é o grupo teatral do qual faço parte, e cuja sigla significa Núcleo de Estudos e Experimentação da Linguagem Cênica.
Desde a fundação do grupo, participamos de projetos públicos que envolvem o convívio com diversos outros grupos de Porto Alegre, como é o caso da ocupação artística do Hospital Psiquiátrico São Pedro, no qual atuam desde o ano 2000 cinco companhias de teatro em espaços outrora ociosos e abandonados pela maquinaria pública. O Neelic trabalha nesta ocupação desde sua fundação, em 2003, e também, desde 2007, na Usina do Gasômetro, edifício que no qual atuam seis coletivos de teatro e dança, e mais dez convidados. O prédio foi anteriormente uma usina elétrica à base de carvão, mas que desde 1974 estava desativado. No ano 2005 foi estabelecido o projeto Usina das Artes. 
No decorrer da trajetória do grupo, marcada pela convivência com diversos outros grupos de teatro da atualidade, observo que muito tem se pensado na consolidação de elementos que signifiquem uma identidade poética para os grupos.
Todavia, percebo que na busca por esta identidade poética, muito pouco se fala a respeito dos sujeitos integrantes de tais grupos, de seu comprometimento ético individual e de como esse comprometimento ético reverbera na prática e na consequente identidade dos mesmos grupos. Também não se fala sobre a identidade como algo relativo, mas muito frequentemente como algo fixado. Já Bakhtin falava de uma identidade relativa do sujeito, não fixada, e tenho embasado minhas reflexões nesta ótica, trazendo esta realidade para pensar a vivência do grupo: se um grupo é formado de sujeitos, assim como a identidade do sujeito, a do grupo também pode ser considerada com relatividade e não fixidez.  
            Assim, tenho pensado muito em possibilidades de trabalho coletivo, mas de um coletivo que pense de forma harmônica a instância do coletivo e a do indivíduo. Acredito que, anteriormente a criar estruturas sobre o funcionamento dos grupos, é preciso problematizar a existência do próprio grupo. E penso que uma adequada forma de fazê-lo é trazer à tona a instância do sujeito colocado neste grupo.

(CONTINUA...)

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